quarta-feira, 28 de março de 2012

Mea Culpa

Já não me identifico com muitos dos universos de muitas mulheres. Sou feminina, adoro ser mulher, mas existe uma dança forjada no convívio entre as iguais que foi, aos poucos, me afastando.
Há uma cordialidade e simpatia exacerbadas no encontro, e o exato oposto no momento em que se afastam. A crítica geralmente é exposta sobre uma à outra, e na maioria das vezes motivada por ciúmes ou inveja, ou os dois juntos.
Existem aquelas que não permanecem por perto na sua alegria e sucesso. É mais fácil dar a mão no fracasso. Parece haver um prazer escondido e não admitido em fazer isso.
Prefiro a objetividade de alguns homens, prefiro suas conversas sobre cerveja e sexo à maledicências de alguma a vizinha que está ganhando alguns quilos a mais ou usando uma roupa demodeé.
Gosto mais da risada fácil de colegas que vivem contando piadinhas infantis, do que gargalhadas de uma turma que se une para deixar claro que certas "amigas" precisam obedecer a um padrão de beleza e comportamento para serem aceitas.
Me incomodam elogios com segundas intenções. Me exaspera a competitividade velada e muitas vezes cruel, mesmo entre àquelas que se dizem irmãs de alma. E me entristece a falta de abertura para dar e receber conselhos honestos, feitos simplesmente para que a vida continue seguindo em frente de forma melhor.
Prefiro a desorganização de certos homens, suas barbas malfeitas e seus jeans meio surrados à esse rigor feminino - que só vem aumentando atualmente - com elas próprias: tudo deve estar lindo e arrumado, dos cabelos ao corte das unhas dos pés.
Admiro a resiliência deles e o quanto abrem mão aos caprichos femininos sem que ninguém perceba. Os homens que entram na dança, no ritmo que elas escolheram, e passam a viver inseridos na feminilidade sem muito alarde ou revolta. Eles dão lá seu jeitinho de ter seu espaço masculino. É um ato de amor.
Prefiro conviver com homens porque são diferentes. Gosto de ver neles o que não consigo ser. Me fascinam. Perto do que somos, eles são de uma simplicidade tão atraente, que já não consigo dar atenção à rodinha de saias no canto da sala.
Não sou tão diferente delas e por isso já sei para onde aquela estrada vai, apesar de suas curvas sinuosas e surpreendentes.
Numa reta posso curtir mais outras paisagens.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Dizer sem falar

Eu já estava dormindo, e talvez já fazendo funcionar minha máquina de sonhar. Eu achei que todos dormiam, a casa já estava escura e silenciosa. Ouvi passos, pequenos pés rastejavam pelo chão. O barulho era marcante, mas sutil o suficiente para me trazer do sono sem susto.
Abri os olhos e era meu filho, que há sete anos me chama nas profundezas da noite branca e sombria. Devo acudí-lo, apaziguá-lo... espero pelo choro, que desta vez não vem. Por um átimo, me faço retornar àquelas longas noites em que andamos de mãos dadas pelo reconhecimento da vida, em toda solidão de quem acaba de ser colocado nela.
Agora, o silêncio. Ele não me chama, não pede. Não fala palavra sequer, pois já caminhou no escuro por sete anos.
Ainda atordoada e confusa (será um sonho?), indago com voz duvidosa:

__ Algo de errado, filho? O que houve?

Ele responde manso, como quem já está acordado antes mesmo do dia iluminado chegar:

__ Nada, só vim te trazer isto.

Coloca em minha cabeceira um coelhinho de chocolate, embrulhado num papel de ouro reluzente; chego a enxergá-lo de olhos fechados. Não me diz mais nada, não me beija e não fica em meu quarto. Vira as costas, apaga de novo todas as luzes e se vai.
Volto a escutar seus passinhos, e enquanto tento voltar aos meus sonhos, penso no que o trouxe ali. Antes que o sonho comece e a noite impiedosa venha, um último ato, mas este de amor-coragem.
Eu me lembro de cada noite viva porque estava numa travessia sem chances de alcançar o barco. "Você não há de recordar isso porque a noite ainda te ultrapassa, filho".
Meus olhos se fecham e os sonhos se dissiparam para dentro da casa. Você dormia, nem precisei conferir. O silêncio me disse.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Viver é caminhar

Não faz mesmo nenhum sentido viver a vida sem ter em mente o que se quer dela. Não é uma simples - porém muito difícil de alcançar - visão de projeção do futuro.
É, ao contrário, pensar o que quero viver agora.
Sei que é ainda mais complexo, pois o momento presente é fugidio. No mesmo instante em que penso sobre ele, ele me escapa. Só posso refletir sobre meu passado, não posso mudá-lo.
É engraçada a sensação de perceber, no momento em que vivo bem o meu presente, um sentimento de plenitude que anda lado a lado de um arrependimento tardio: há muito não consigo viver de fato como agora.
E por quê não? Tenho a esperança infantil de que a vida vai se apresentar para mim, respondendo todas as minhas perguntas, sem parar nem por um instante para saber de mim mesma quais seriam, afinal, essas minhas perguntas.
Resolvi começar então, essa caminhada-do-agora. Simplesmente com uma pergunta que escolhi: "o que vivi hoje"? Sei que a questão está no tempo verbal do passado e só pode ser feita em dias que se passam sem serem notados, mas já é um começo.
A pergunta pode, e deve, ser substituída por um pensamento fugaz, mas marcante, que te toma de assalto: "isso é vida".
É primeiramente uma questão de atenção. Eu me disponho a realmente perceber a vida, a olhando pelo lado de dentro. O que se esquece, comumente, é que acessamos o nosso interior por atalhos tão simples, que são desprezados; um aroma, uma visão de uma folha, os olhos tristes de um cão. E vendo, vivo de fato.
Eu caminho, observo as pessoas, faço compras na feira. Estou ali? Se não estou, para onde tenho ido, sem estar realmente lá?
A triste resposta é "nada ou lugar nenhum". Mais triste ainda é "aonde não quero estar". Contudo, ser triste já é o segundo passo, me animo, pelo simples fato de que já o sei.
Assim é viver e o perceber. O que me deixa, em um ponto frágil e necessário, a meio passo do bem-viver.
A caminhada-do-agora se torna em seguida uma corrida, pois já se disse por aí que a vida é curta. Há de se criar momentos, então, que se sintam (em mim) intermináveis.

Por Carolina Godoi.

terça-feira, 20 de março de 2012

Festival de Fotografia de Tiradentes


Foto feita por mim na estação de Trem de Tiradentes (MG)