sábado, 28 de janeiro de 2012

Casa que não tenho

Quando eu crescer quero ter uma casa que exista há muitos séculos. Ela teria de estar ali há muitas gerações para que eu entenda que a vida flui devagar, nossas vidas é que são breves.
Não me entenda mal, ela não seria velha, esquecida ou abandonada, não. Seria nova, como que reformada, sem vestígio do tempo. Eu olharia para ela e saberia que tudo pode ser refeito, desfeito e todo recomeço pode partir do mesmo lugar em que já estamos.
Minha casa teria uma vista linda, com muito verde, pássaros e borboletas, para que eu me sentisse sortuda ao me deparar, sem aviso prévio, com uma joaninha furta-cor. É que alguns dias são mesmo simples presentes e aquilo de mais importante aparece em nossas vidas sem precisar pedir.
Eu queria que essa casa ficasse fincada no silêncio, onde pudesse ouvir meus pensamentos e que tivesse chance de falar quando desse vontade, mesmo que fosse para tentar entender o que ainda não sei. De mim, de você, do mundo, da vida.
Nela, um cachorro me esperaria por todo tempo sem cansar e sem se importar se eu resolvesse, de repente, habitar outros mundos. Lá fora, meu filho pequeno (para sempre pequeno em mim) rolaria numa relva macia sorrindo o sorriso largo dos muito amados.
O quarto e a cozinha seriam enormes, e dentro deles, estaria para todo sempre descansando o meu amor, que tem aroma de pão recém saído do forno.
Minha casa não seria grande, mas teria paredes de vidro para que eu visse a todo instante, ao longe, meu caminhar; de onde vim e para onde vou. E se eu não souber nunca, que pelo menos eu possa suspirar ao enxergar a imponência viva de uma montanha, que não vai. Já é.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Ideia incrível

Davi, de sete anos, está de férias. Ele tem uma agenda da escola onde fica grudado um papel com as fotos, nomes dos pais e telefones dos colegas. A gente vive olhando e telefonando para saber quem está disponível para brincar com ele.
Frustrado com algumas tentativas em vão ele dispara:
__ Essa agenda deveria ser toda "elétrica", já mostrando se o coleguinha está viajando ou não. Seria mais fácil.
__ A palavra certa é digital e conexão entre grupo de amigos. E, sim, isso já existe meu filho, se chama Facebook.

Mesmo tarde demais, adorei que ele tivesse essa ideia sem nem saber do que se trata o Facebook.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Experiência Sudbrack

Na dúvida em qual restaurante de alta gastronomia ir em minha passagem ao Rio, uma frase do meu colega jornalista Eduardo Girão me fez decidir de vez. "A Roberta Sudbrack é uma unanimidade nacional". Bastou para aguçar ainda mais minha curiosidade, já que a única informação que tinha dela é que foi a chef de Fernando Henrique Cardoso presidente.
No site nada de cardápio, o esquema é menu confiança: a gente vai sem saber o curso da noite. E desde a reserva por telefone percebi um extremo respeito ao cliente. Lotada no dia, conseguiram mesa para dois dias depois, me ligando no dia seguinte confirmando. Minha primeira dica é: marque seu jantar para cedo, a casa é linda e aconchegante, mas pequena, e pode ficar bem barulhenta dependendo da empolgação dos clientes.



O menu do dia te dá opção de escolher 3 pratos (145,00) ou 5 pratos (198,00). O mesmo menu tem opção de ser servido com um ingrediente especial: trufas brancas, o que coloca o preço nas alturas, mais de 500 reais por pessoa.


Este foi o começo da noite, com um salame artesanal feito no sul do Brasil. Nunca vi um salame tão bom e cortado tão fininho. Este e outros são pratos que não estão no curso. Os garçons servem avisando que é surpresa da chef.


Mais uma surpresinha incrível: mandiopã com farofa de banana.


Outro presentinho da chef Carolinas com queijo Gruyere. Uma outra observação importante é que o serviço de garçons, maître e sommelier é impecável. Foram 5 profissionais por conta da nossa mesa, sendo que fui acompanhada somente pelo meu marido.



Finalmente o primeiro prato, que podia ser o Ravióli de chantilly de batatas e bottarga (que são ovas de Tainha) ou o Badejo em compota de milho e canjica. Escolhi a massa, que estava extremamente macia, mas senti falta de um molho que sobressaísse mais. O peixe estava uma perfeição (sei porque roubei um pouco do marido).



O prato principal não dava opção de escolha e, vejam só, foi uma costelinha de porco assada em "baixa temperatura caseira" com angu cremoso de Amarantina, MG. Nunca fui a essa cidade, mas adorei, pois derrete na boca. A costelinha estava desossada e no ponto certo de gordura e tempero.


Para uma apaixonada por doces, porém, o ponto alto foi a compota de cereja, pele de leite e farinha de rapadura. Um verdadeiro poema ao aliar o açúcar, o creme e o crocante que desaparecem na língua logo depois de aguçar o ponto específico do prazer no cérebro.



Quando achei que era tudo, eles apresentam essa chave de ouro para fechar os serviços com um pequeno pedaço de felicidade em forma creme brulé com morangos, doce de leite, bomba de chocolate, brigadeiro, doce de laranja, goiabada e... o que era mesmo o último? Ih, me esqueci de tão hipnoticamente bom.