quinta-feira, 26 de março de 2009

Entrevista nunca antes publicada

Ele já disse que a Igrejinha da Pampulha foi um protesto que levava como arquiteto, o de cobrir o projeto com curvas, das mais variadas. Oscar Niemeyer queria em 1940 contestar a predominância das linhas retas na arquitetura vigente. O mesmo se repetiu na Casa do Baile, onde ele fez toda a marquise em curva, explicando que era para seguir o contorno da ilha. Que nada, de novo, o que interessavam eram simplesmente as curvas e seus elementos plásticos. O Iate Clube literalmente se debruçava sobre a represa e o antigo Cassino, com suas rampas e colunas projetadas em uma única noite, funcionavam para exibir a elegância da burguesia. Com certeza, o convite de JK para construir o conjunto arquitetônico da Pampulha mudou a vida do jovem arquiteto e presenteou a cidade com um patrimônio artístico incalculável.
Perto de completar 100 anos de idade, em plena atividade, Oscar Niemeyer falou sobre a Pampulha, mais uma vez.

Carol Godoi: O que significou a Pampulha em sua carreira?
Oscar Niemeyer: O conjunto da Pampulha foi praticamente o meu primeiro trabalho de importância como arquiteto. Definiu esta arquitetura mais livre e variada, procurando a forma diferente, a surpresa arquitetural, que até hoje tento manter em meus projetos.

CG: Qual a memória afetiva mais marcante do bairro?
Niemeyer: Provavelmente as lembranças das visitas que fiz às obras da Pampulha em companhia de JK. Quantas vezes fomos de lancha para vê-las de longe a se refletirem nas águas da lagoa! E JK me confessava, cheio de entusiasmo: "Que beleza! Vai ser o bairro mais bonito do mundo!”

CG: Como o arquiteto vê a importância do complexo arquitetônico da Pampulha para o país e o mundo?
Niemeyer: Como já declarei em meu livro de memórias As curvas do tempo, esse projeto foi a oportunidade de contestar a monotonia que afetava a arquitetura contemporânea, a onda de um funcionalismo mal compreendido que a castrava, a defesa dos dogmas de "forma e função", a contrariarem a liberdade plástica que o concreto armado permitia.

CG: O que mais gosta na região?
Niemeyer: Agrada-me todo o lugar, que, espero, não está muito afetado pela violência que se tem expandido nas metrópoles brasileiras.

CG: Há poucos anos o Sr. esteve na Pampulha visitando. Quais as impressões? Qual outro projeto o Sr. faria na região?
Niemeyer: As melhores possíveis. Existe o projeto de um anexo do MAP, que confiei o desenvolvimento a Jair Valera, meu amigo e colaborador permanente.

CG: O que o Senhor sonha para o futuro do bairro?
Niemeyer: Meu desejo é que ele possa ser sempre apreciado como um espaço acolhedor (e não apenas como um lugar de memória, considerando as obras arquitetônicas que lá estão, a lembrarem o espírito de luta de JK). Um espaço onde as pessoas se encontram e se solidarizam, longe da agitação do centro urbano.



Essa entrevista foi feita há alguns anos para um projeto meu que não decolou, infelizmente. Uma revista só sobre a cultura da região da Pampulha.De qualquer forma foi bacana ter uma entrevista com Niemeyer, o que, aliás, não foi fácil de conseguir.

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