Na sala de espera do médico, me sento perto de um velhinho que assobia sem cessar, sempre na mesma melodia de três notas: fi-fiu-fi. Ele repete a sequência logo em seguida, com uma breve pausa para respirar.
O que normalmente (e facilmente) me irritaria, me enterte. Como uma meditação, como ouvir um mantra, páro de pensar e me embalo na sua repetição de sons.
Estava assim, desligada, quando vejo a moça ao seu lado se levantar. Ela desdobra algo irreconhecível para mim. Fica ali parada no meio da sala por alguns instantes. Quando começa a falar alto e se mover devagar é que noto: é cega.
Ela diz ao velhinho assobiador:
__ Volto logo, vovô.
Entre uma sequencia e outra de assobios ele responde:
__ Vou ficar aqui esperando.
E continua a assobiar. E mesmo sem ter consciência disso, o avô continua a sua forma inventada de ser visto pela neta o tempo todo na escuridão que é só dela.
Fi-fiu-fi. Fi-fiu-fi.
Um comentário:
Nossa que legal! Carol...vc viaja...e a neta foi ao banheiro sozinha? Bjs.
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