Os homens e seus relógios

Quando comecei a me interessar por garotos, meu pai, discretamente, passou a tentar a dar algumas diretrizes do que seria um bom "partido" para mim. Me recordo que ele falava sempre que para escolher bem um namorado eu deveria ficar atenta ao relógio que ele usava. Era a forma dele garantir que o futuro genro tivesse preocupação com detalhes, fosse atencioso e não deixasse coisas importantes passarem despercebidas. Talvez tivesse subentendido aí que eu deveria escolher alguém que pudesse comprar pelo menos um relógio e não fosse de todo sem eira nem beira.

Para mim passou a ser um código de conduta. Quem usa relógio se preocupa com horários, e a chance de um pretendente te deixar esperando num encontro, ou um amante te deixar esperando na vida, diminuiria drasticamente. No meu conceito, ser pontual é mais do que simples elegância; é demonstrar carinho por quem te espera, o desobrigando exatamente da espera.

Fui decifrando mensagens ao longo dos anos. Se o relógio é muito exagerado e brilhante é sinal de que ele quer parecer ser mais do que realmente é. Se o acessório é muito chinfrim é sinal de que tem auto-estima prejudicada. Isso foi me guiando até que conheci meu marido. Seu relógio era clássico, com pulseira de couro preta. Não tinha nada de mais nem de menos. Era atemporal e me intrigou. Pensei erroneamente que era de alguém previsível demais, talvez um pouco pão duro, mas errei, logo vi que ele não tinha nenhuma dessas características.

Sem chegar em nenhuma conclusão, já estava por desistir e jogar por terra minha teoria, afinal este eu não decifraria. Até que os anos se passaram e nada dele trocar o tal relógio. Fazia questão de trocar baterias, pulseiras e mandar para o conserto toda vez que pifava. Nada fazia ele desistir do relógio, nem as minhas mais sedutoras promessas de um outro novo e chiquérrimo de marca conceituada.

Até que descobri: homem que não troca de relógio nunca vai querer trocar a mulher.